CRISTÓFARO-SILVA, Thaïs. Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro: os sons. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2005.155 páginas
Resenhado por Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG/CNPq)
Thaïs Cristófaro, talentosa pesquisadora na área de fonologia, é nacionalmente reconhecida pelo seu trabalho. Seus livros anteriores, Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios” e “Exercícios de Fonética e Fonologia”, editados pela Contexto, são presenças obrigatórias nos cursos de Letras em nosso país.
O novo livro, editado pela Faculdade de Letras da UFMG, vem preencher uma lacuna no ensino de língua inglesa no país. A inexistência de material adequado sobre pronúncia do inglês para aprendizes brasileiros e o despreparo de muitos professores podem ser duas das causas da quase total ausência do ensino da pronúncia do inglês nos cursos de Licenciatura. A autora vem atacando os dois problemas: o ensino e a elaboração de material didático. Frequentemente oferece cursos de pronúncia na graduação e no curso de especialização em ensino de língua inglesa na UFMG. O livro é fruto do material didático preparado para seus cursos, de seu trabalho de orientação de pós-graduação e de sua pesquisa.
Pronúncia do inglês vem acompanhado por dois CDs com amostras do inglês americano e britânico para apoio aos exercícios e pode ser utilizado em cursos regulares de língua inglesa, em cursos de pronúncia e, ainda, para estudos autônomos.
O livro se divide em 25 unidades sobre um ou mais sons. Os agrupamentos, como explica a autora, não seguem as divisões tradicionais, mas sim a relevância das categorias sonoras para o aprendiz de inglês falante de português.
A criatividade do sumário chama a atenção do leitor. Além de índice, funciona como guia de pronúncia, pois cada som é seguido de uma palavra bem conhecida para exemplificá-lo. Vejamos dois exemplos.
Unidade 1 |
i: |
leeks |
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11 |
Unidade 9 |
p |
pie |
b |
bye |
k |
card |
g |
guard |
52 |
Ao longo do livro, Thaïs mostra a pronúncia marcada dos falantes de português brasileiro, como nas inserções de vogais em começo e final de palavras. Sempre que possível traça comparações entre a pronúncia do português brasileiro e do inglês, se valendo, inclusive, de palavras semelhantes como nos exemplos si /sí/ e sea /si:/ ou tu /tu/ e two /tu:/.
O constante retorno ao sistema sonoro português, ancora as informações em algo que já é familiar ao aprendiz, mesmo que não tenha tido a acuidade auditiva direcionada para discriminar certas nuances da pronúncia de sua própria língua. Vejamos um exemplo. Na página 54, a autora, antes de trabalhar com vogais alongadas antes de bg e menos alongadas antes de pk, traz a seguinte informação sobre o português:
Ao comparar cada par de palavras do português – “a capa-acaba” e “peca-pega” –, pode –se observar que as vogais que precedem as consoantes vozeadas bg em acaba, pega são mais longas que as vogais que precedem as consoantes desvozeadas pk em a capa, peca.
Outro ponto positivo do livro são os constantes comentários sobre as variações de pronúncia do inglês. Apesar de a ênfase maior focar as variantes inglesa e americana, outras variações são apresentadas, como na página 24, onde um quadro mostra, também, o dialeto rural do País de Gales e da Escócia e Irlanda.
O livro traz 80 exercícios com chave de resposta. Há exercícios com palavras isoladas para treinamento de sons específicos, mas a pronúncia também é trabalhada no nível do texto. Os exercícios 3, 20, 22, 23, 34, por exemplo, trabalham com provérbios; os exercícios 11, 15, 58, 59, 68, 72 e 77 trazem piadas. Não se encontram nos exercícios frases que não teriam ocorrência no uso da língua. Isso é um ponto muito positivo.
Três exercícios que chamaram minha atenção foram o 51, o 62 e o 80, pois seus textos falam sobre a aprendizagem da pronúncia. São conselhos ao aprendiz interessado em estratégias para se aprender a pronúncia. No exercício 51, lê-se:
You must hear English. But just hearing it is not enough. You must listen to it and you must listen to it not for the meaning but for the sound of it. Obviously, when you are listening to a radio programme you will be trying to understand it, trying to get the meaning from it, but you must (also) try also for at least a short part of the time (to try) to forget about what the words mean and to listen to them simply as sounds.
No exercício 62, há informações sobre variação lingüística – “[N]o two people pronounce exactly alike. The differences arise from a variety of causes, such as locality, early influences and social surroundings; there are also individual peculiarities for which it is difficult or impossible to account.” – e no 80, a autora fala sobre as letras e os sons:
Letters are written, sounds are spoken. It is very useful to have written letters to remind us of corresponding sounds, but this is all they do; they cannot make us pronounce sounds which we do not already know; they simply remind us. In ordinary English spelling it is not always easy to know what sounds the letters stand for: for example, in the words city, busy, women, pretty, village, the letters i, y, u, o, e and a all stand for the same vowel sound, the one which occurs in sit.
Além dos CDs, há um site de apoio na Internet: http://www.pronunciadoingles.com com informações diversas sobre o assunto que são atualizadas com freqüência.
O CD é um excelente auxiliar, principalmente, se o aprendiz utilizar o livro para estudo autônomo, sem a ajuda do professor. No canto superior esquerdo de cada página, o leitor encontra a indicação da faixa no CD correspondente aos sons em estudo. Como essa informação pode escapar ao leitor menos atento, sente-se falta de um sumário mais detalhado tanto no livro quanto nos CDs, sobre o conteúdo do material sonoro, mas isso é compensado com a publicação do sumário na homepage.
Recomendo enfaticamente o livro, pois ele oferece aos professores, graduandos e estudiosos da língua inglesa um rico material para aprimorar a pronúncia do inglês.