Share |

Narrativas coletadas por Andréa Santana Silva

 

NARRATIVA 22

Nome completo: Fabiana
Idade: 25 anos
Escolaridade: Curso de Letras
Tempo de aprendizagem da língua:14 anos
Narrativa coletada por Andréa Santana Silva e Souza em Junho/2010

Meu primeiro contato com o Inglês foi quando minha mãe decidiu me colocar num curso de Inglês, no XXXX. Eu tinha onze anos. As primeiras aulas foram legais, mas eu comecei a achar muito chato essa coisa de repetir frases. Comecei a me sentir uma burra porque eu não conseguia gravar, não conseguia decorar, e todo mundo na minha sala conseguia decorar. “This is the backyard. That is the garage”. Eu não conseguia decorar. Aí, eu achava um saco aqueles exercícios de repetição e eu desisti. Depois de seis meses, minha mãe me tira: “Vou fazer outra coisa... Inglês é uma droga! Não sei essa língua... Nada”! E, aí, no meu aniversário de doze anos, minha vizinha me deu um CD dos Backstreet Boys – foi o primeiro CD em Inglês que eu ganhei. Eu comecei a ouvir e queria, porque queria aprender a cantar. Aí, eu pegava letra de música, punha um fone de ouvido, e cantava. Repetia, repetia, repetia, repetia, até conseguir a pronúncia aproximada do idêntico. E eu falava: “Beleza... Agora, eu sei cantar. Mas, o que é que eu tô cantando”? Eu pegava o dicionário, traduzia palavra por palavra, traduzia tudo. Aí, eu comecei a aprender... Nisso, chegou também a TV a cabo. Com ela veio série de TV: Dawson´s Creek, Felicity... Foi a primeira vez que eu tive contato com filme com legenda porque até então eu só assistia filme dublado – eu comecei a ver que filme com legenda é muito mais legal. Tinha também aquele Multishow TV, que passava as músicas traduzidas com a legenda em baixo. Aí, eu gravava as músicas, copiava a tradução deles, pegava a letra na internet, fazia a minha tradução e encontrava erros de tradução. Depois de um tempo, foi assim que eu fui adquirindo vocabulário: pela tradução, traduzindo tudo. Depois de um tempo, eu ouvia as músicas e já sabia cantar, já sabia o sentido de muita coisa, já produzia várias palavras. Eu tinha minha amiga, no colégio, que amava Inglês também. A gente odiava a aula de Inglês porque não tinha nada. Então, a gente pegava e ficava cantando as músicas que a gente gostava e tentava reescrever a letra pelo que a gente lembrava – ía cantando e ía escrevendo. Trocava cartinhas em Inglês uma com a outra. A gente não falava muito, mas a gente escrevia muito em Inglês uma com a outra. Aí, eu fiquei nesse processo uns cinco, seis anos – dos doze até os dezoito, eu só fazia isso. Lia todos os textos e entendia tudo. Entrava na internet, no bate-papo, e procurava gente de outro país e falava: “Ó, quero praticar Inglês. Você conversa comigo? Meu Inglês é bem mais ou menos, mas vamos lá”... Pegava o tradutor – o que eu queria falar, ele traduzia a frase para mim. O que eu não entendia, eu jogava no tradutor. Até que, quando eu tinha dezoito para dezenove, eu estava numa boate e chegou um cara para mim falando Português: “Você fala Inglês?” E, essa minha amiga tinha acabado de chegar dos Estados Unidos, tinha se formado no instituto de idiomas XXXX, tinha um Inglês perfeito, mas era tímida. E, eu – com meu Inglês bem mais ou menos – disse: “More or less”! “So so”! E, ele falou: “Ah, é porque tem um amigo meu que chegou dos Estados Unidos e eu preciso interagi-lo, não é”? Eu falei: “Ótimo... Traz ele aí que a gente conversa; a gente arranja um jeito”. E eu estou assim com minha amiga: “Fala, fala, sô”! E ela: “Ah, não”... Aí, eu falei: “Ó, my English so so. We can comunicate”. Pronto! Começamos a conversar, ficamos, namoramos um mês – o tempo que ele estava aqui. E, aí, eu me lembro que, no início, a comunicação era muito difícil porque eu não tinha as palavras automatizadas na minha cabeça para a comunicação. Mas, quando ele foi embora, minha mente pensava em Inglês porque eu fiquei com ele todos os dias – eu via ele todos os dias e ficava com ele o dia inteiro. Ele não falava nada de Português. Então, eu tinha que me virar. Aí, quando ele foi embora, a gente continuou se falando pelo telefone porque eu venci a barreira de não conseguir entender pelo telefone – a primeira vez foi muito difícil, mas a gente conseguiu vencer essa barreira. E a gente ficou um ano falando duas vezes por mês e trocando emails uma vez por semana. Isso foi desenvolvendo meu Inglês. Aí, foi que eu não passei no Vestibular. Tentei duas vezes e falei: “Ponto. Eu tenho que achar alguma coisa pra fazer”. Peguei o livrinho da Federal e falei: “O que eu vou fazer? Não gosto de Engenharia. Não gosto de Matemática. Não gosto de nada... Vou fazer Letras porque, pelo menos, de Inglês eu gosto”. Aí, não estudei para a prova da primeira etapa porque Leitura eu sabia: era só vocabulário. Tirei total. E, para a segunda etapa, quando começaram os dias de segunda etapa, o último dia (a quarta prova) era de Inglês. Desde o terceiro até o quarto dia, um amigo meu, que já fazia Letras, dormiu lá em casa os três dias e estudava comigo à noite Inglês. Porque eu não sabia nada de Wh- questions, não sabia onde eu iria colocar this, do; não sabia nada. Eu sabia que eles existiam. Como eles estavam na minha fala, eu não tinha a mínima idéia. Mas, eles estavam lá. Eu sabia da existência deles. Mas nunca tinha estudado a gramática; então, eu não sabia. Na hora que tinha um texto, eu não sabia conjugar. Eu falei: “Vamos na fé”! Fiz a prova de segunda etapa. Escrevia texto, falava tudo; mas, tudo errado. Aí, eu cheguei aqui, no meu primeiro período, e a profesora XXXX falou que eu não iria passar em Habilidades I. Me mandou para o CENEX – Básico 4. Eu falei: “Não... Eu vou ficar porque eu não quero fazer CENEX. Não tenho dinheiro; não tenho tempo. Eu vou ficar”. Aí, eu comecei a escrever e, foi aí, tomei consciência... Comecei a tomar consciência da gramática – porque eu tive que estudar. Meu primeiro texto, eu gastei uma semana para escrever um parágrafo. Porque eu tinha que usar o therefore, however... Tudo foi conhecimento novo. Aí, eu fiz amizade com uma menina que tinha feito highschool nos Estados Unidos. Então, ela corrigia todos os meus textos para eu não perder pontos com isso; perder pontos só na prova porque eu estava sozinha (Era eu e Deus, não é?). Foi quando e comprei a gramática da Longman e estudei a gramática toda. Em um ano eu saí do intermediário e fui para o avançado. Achei que eu estava, assim, bombando! “Agora eu entendo tudo. Passei com noventa em Habilidades II. (Não foi com sessenta como em Habilidades I. Então, estou perfeita”! Fui procurar emprego para dar aulas de Inglês. Ninguém me ligava... Falei: “Ninguém me retorna. O que será que está acontecendo”? Uma pessoa me retornou. Falei: “Uhuuuuu”! Cheguei lá. Ela falou: “Olha, te adorei, mas, na verdade, seu Inglês é uma droga”. Eu engoli seco para não chorar. Falei: “Tudo bem”. Eu já tinha assinado um contrato para fazer um intercâmbio nos Estados Unidos; só não tinha contado para ela porque eu precisava de seis meses de emprego para terminar de pagar. Aí, ela me deu folhetos – ela é minha chefe até hoje. Ela jura que foi ela que me influenciou a fazer intercâmbio... Que ela continue achando... Ótimo! E, eu fui para os Estados Unidos e cheguei lá – por eu não ter a parte negativa das pessoas jogando na minha cara que meu Inglês era ruim, eu tinha todo mundo achando que meu Inglês era ótimo – eu comecei a achar que meu Inglês era ótimo e fui falando, fui falando... Comecei a ver televisão sem legenda e conseguia assistir tudo. Fui me comunicando. Conheci uma americano, na primeira semana (ele é meu namorado até hoje). A gente começou a namorar e tal... Eu comecei a me comunicar com ele e falar com ele todo dia. Quando eu voltei, eu já estava pronta para estudar para o Proficiency. Eu voltei estudando para o TOEFL e com a pronúncia excelente, com um Inglês lindo e maravilhoso. Todo mundo: “O que aconteceu? Meu Deus do céu, mulher, você se transformou”! Eu falei: “Ah, foram só cinco meses fora. Bobagem”! Eu cheguei a esse ponto e comecei a estudar as minuciosidades da língua porque, quando eu fui estudar para o TOEFL, é que minha professora americana falou para mim: “Você fala. Mas, fala Inglês e Português. A sua fala é em Inglês, as suas palavras são em Inglês, mas a sua prosódia é do Português. Foi, aí, que eu comecei a estudar e a aprender a musicalidade da língua – aprender que horas é o subindo e descendo; aquelas coisas. Foi até bom porque, como eu tranquei um semestre, mudou currículo, teve coisa que foi até legal ter um processo invertido... Porque eu fiz produção de texto no semestre passado e eu achei que foi muito mais proveitoso porque como eu já estou com um Inglês proficiente, as novas técnicas de escrita, as novas formas de abordagem, tudo fez muito mais sentido do que se eu tivesse acabado de sair da Habilidades, sem estar com o Inglês consolidado. E, é a mesma coisa... Estou fazendo fonologia agora. E, até falei com a professora XXXX: “Mudou totalmente... A minha experiência com o Inglês mudou a minha qualidade de dar aula porque, agora, os sons fazem sentido na minha cabeça. Aí, eu consigo enxergar a prosódia, a musicalidade”. Então, mudou muito... Achei legal ter isso fora de ordem. Se eu tivesse ido para um cursinho e aprendido a gramática; eu não sei o que eu estaria falando hoje... De jeito nenhum... E, para o futuro, eu já tenho a velocidade, mas quando eu preciso explicar as coisas em Inglês (eu acho que isso é meu porque até em Português eu faço isso; eu falo mais devagar!) eu perco a prosódia. Porque eu falo palavra por palavra. Meu namorado vive pegando no meu pé. Ele diz que, de vez em quando, eu sou como: “Da, daaaa... Da, da, daaaa... Da, daaaa”. Ele vive pegando no meu pé com isso! Agora, eu tenho vontade de tentar Mestrado e Doutorado fora. Então, vou voltar a estudar para o TOEFL. Tenho que estudar para o GRE. Tenho que ter notas bonitas para ver se eles me aceitam. (risos) É isso!